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10 frutíferas nativas pra ter no seu pomar

  • Foto do escritor: Suellen CS
    Suellen CS
  • 26 de jun.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 1 de jul.

No meu quintal tem araçá, cajá, caju, pitanga, biribá e maracujá. E outras 22 espécies arbóreas não nativas, entre plantadas no solo ou em vasos. Eu sei que nem sempre é fácil ter as plantas da nossa região, seja por não conhecermos bem — é tanta coisa comum de mercado que entra em casa — e tão pouco que colhemos do pé, que perdemos essa noção do que estava aqui antes da gente, habitando essas terras e se adaptando ao clima. E que clima, nesse caso.


A Região dos Lagos é peculiar. Tem um ambiente heterogêneo, baixo índice pluviométrico, clima semiárido, com insurgência marítima e padrão de ventos diferentes do restante do estado. Tem variação térmica entre 9 °C e 35 °C (mas já medi 8 °C e 42 °C na minha casa). Predominam ventos do quadrante NE, com a frequência no verão superando 50%, favorecidos pelo fortalecimento da Alta Pressão do Atlântico Sul, enquanto os ventos S e SO são mais frequentes no outono e inverno, associados às frentes frias (Barbiére, 1985). A interação entre todos esses processos também tornou o solo bem diverso.


Isso tudo (e outros fatores históricos e físicos) resultaram em uma grande quantidade de espécies endêmicas, além de várias nativas que compartilhamos com a Mata Atlântica — o que reflete a riqueza própria dos mosaicos da Região dos Lagos, composta por Floresta Ombrófila Densa, Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Estacional Seca e Formações Pioneiras, com ainda suas subdivisões que tornam a região mais rica e mais complexa. Ainda hoje podemos ver toda essa riqueza apesar da ação humana desde muito cedo na nossa região em relação a outras regiões do país mais interioranas.


As áreas antrópicas somam cerca de 58% da região e as urbanas, 13%. Isso, associado à vegetação natural fragmentada e aos novos loteamentos, aumenta a necessidade de protegermos o que resta de vegetação nativa e colaborarmos com a conservação do ecossistema em que vivemos.


Nossos quintais não substituem as florestas — que podem ter até 8 indivíduos entre árvores, arbustos e regenerantes por metro quadrado competindo por luz, espaço e nutrientes. Animais silvestres de vários portes, nascentes, árvores centenárias e toda a complexidade própria de um ecossistema maduro —, mas podem funcionar como florestas de bolso (termo do Ricardo Cardim) particulares, com árvores, palmeiras, arbustos e plantas que oferecem alimento tanto para nós quanto para a fauna local, como aves, insetos e pequenos animais. Além de criar um micro clima agradável, diminuir a poluição do ar e sonora em casa, melhorar a infiltração da água da chuva e contribuir para a conservação da biodiversidade.


Mesmo pequenos, quintais com vegetação nativa têm um papel importante na conservação. Eles ajudam a reduzir o isolamento entre fragmentos de mata, funcionando como mini corredores ecológicos ou “stepping stones”, que facilitam a movimentação de aves, insetos e outros animais entre áreas verdes. Essa conectividade ajuda a manter os processos ecológicos funcionando — como polinização, dispersão de sementes e circulação genética — e contribui para diminuir a degradação ambiental ao redor. Quanto mais espaços assim houver no bairro, mais forte e resiliente fica o ecossistema local.


Também dá para incluir espécies não nativas e plantar comida, desde que as espécies selecionadas não sejam invasoras nem entrem em competição com as demais. Isso não é apenas um ato de resistência — mas uma forma poderosa de educar quem convive com você, especialmente as crianças, que hoje têm poucas oportunidades de acompanhar a natureza de perto, como muitos de nós tivemos. Veja algumas sugestões de espécies que separei:


Jerivá (Syagrus romanzoffiana)

Palmeira de 8 a 15 m, tronco esguio e copa elegante. Adapta-se bem a áreas litorâneas e urbanas, tolerando sol pleno e ventos fortes. Floresce entre setembro e janeiro, produzindo cachos de frutos alaranjados entre março e agosto. Espécie heliófita e rústica, muito visitada por aves que dispersam suas sementes, além de servir como sombra e abrigo para fauna local.

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Pitanga (Eugenia uniflora)

Arbusto a arvoreta entre 2 e 4 m, copa densa e perenifólia. Ideal para pomares e bordas de jardins, aceita podas e gosta de sol direto. Floresce entre agosto e novembro, formando frutos avermelhados e suculentos entre outubro e janeiro. Espécie melífera e atrativa para aves, contribui para corredores ecológicos e sombreamento leve.

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Guriri (Allagoptera arenaria)

Palmeira acaulescente e entouceirada, altura entre 1 e 2 m. Característica das restingas, resiste a solo arenoso e salino. Produz flores entre setembro e fevereiro e frutos amarelos entre dezembro e maio. Espécie heliófila e rústica, essencial para a fixação de dunas e alimento para a fauna litorânea.

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Maçaranduba (Manilkara subsericea)

Árvore entre 8 e 20 m, copa ampla e folhas coriáceas. Prefere solos bem drenados e clima tropical. Flores esbranquiçadas entre outubro e dezembro e frutos globosos entre fevereiro e maio. Espécie heliófita, fornece madeira de alta densidade e frutos consumidos por aves, além de valor ornamental para praças e parques.

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Aroeira (Schinus terebinthifolius)

Arvoreta entre 5 e 10 m, copa arredondada e aromática. Muito adaptável a diferentes tipos de solo, inclusive salino e compacto. Flores entre agosto e novembro, frutos avermelhados entre dezembro e março. Espécie melífera, atrativa para polinizadores, serve como quebra-vento e contribui para a recuperação de áreas degradadas.

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Arumbeba (Opuntia brasiliensis (Willd.) Haw.)

Cacto arbustivo entre 1 e 2 m, caule segmentado e espinhos esparsos. Espécie típica de restingas, tolerante a solo arenoso e seca. Flores amarelas entre setembro e janeiro e frutos avermelhados entre fevereiro e abril. Espécie pioneira e xerófita, muito visitada por insetos e dispersores como aves.

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Cajueiro (Anacardium occidentale)

Árvore entre 6 e 12 m, copa ampla e ramificada. Gosta de sol pleno e solos bem drenados, resistente a ventos fortes. Flores entre agosto e novembro e frutos entre outubro e janeiro. Espécie heliófila e caducifólia, os pseudofrutos suculentos são atrativos para a fauna e os frutos têm alto valor econômico e nutricional.

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Bacupari (Garcinia brasiliensis)

Arbusto ou arvoreta entre 3 e 8 m, copa densa e folhagem verde-escura. Adapta-se a solos úmidos e prefere meia-sombra quando jovem. Flores entre setembro e dezembro, frutos amarelos entre janeiro e março. Espécie melífera, fornece alimento para aves e pode compor pomares e bordaduras frutíferas.

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Jenipapo (Genipa americana)

Árvore entre 8 e 15 m, copa esparsa e folhas grandes. Vegeta bem em solos férteis e áreas ribeirinhas, requer boa disponibilidade hídrica. Floração entre setembro e novembro e frutificação entre fevereiro e abril. Espécie heliófila e decídua, atrai morcegos e aves frugívoras e tem madeira apreciada e uso tradicional em tinturas.

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Araticum-do-brejo (Annona glabra)

Arvoreta entre 3 e 7 m, típica de brejos e margens de rios. Prefere solos encharcados e sombra parcial. Floração entre setembro e dezembro e frutos entre janeiro e março. Espécie heliófila a moderadamente esciófila, dispersada por peixes e aves, com papel importante na estabilização de margens e manutenção da fauna local.

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Essas são apenas algumas espécies que podem transformar um espaço comum em um ambiente vivo, resiliente e mais conectado com o lugar onde estamos. Cuidar da terra ao nosso redor, mesmo que seja um pequeno quintal ou vaso na varanda, é uma forma de regenerar o vínculo com o ecossistema e deixar um legado — não só em forma de sombra e alimento, mas de memória viva para quem vem depois. Se você já está pronto(a) pra estruturar isso de forma mais técnica e consciente — com um projeto ou consultoria — é só me chamar. 🌱



Referências utilizadas

  • MapBiomas. (2023). Metodologia de detecção de degradação ambiental. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org/en/metodo-degradacao/

  • Lobão, A. Q., Araujo, D. S. D. & Kurtz, B. C. Annonaceae das restingas do estado do Rio de Janeiro, Brasil. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

  • Reis, R. C. C. Palmeiras (Arecaceae) das Restingas do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Revista Rodriguésia, Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

  • Lorenzi, H.

    • Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Volumes 1, 2 e 3. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum.

    • Palmeiras brasileiras e exóticas cultivadas. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum.

  • Coe, H. H. G. & Carvalho, C. N. (2004). Cabo Frio: um enclave semiárido no litoral úmido do estado do Rio de Janeiro — respostas do clima atual e da vegetação pretérita. Revista Brasileira de Geografia Física.

  • Cordeiro, S. Z. (2005). Composição e distribuição da vegetação herbácea em três áreas com fisionomias distintas na Praia do Peró, Cabo Frio, RJ, Brasil. Revista Acta Botanica Brasilica.

  • Fonseca-Kruel, V. S. & Peixoto, A. L. (2004). Etnobotânica na Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo, RJ, Brasil. Rodriguésia, Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

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  • Almeida-Gomes, M. et al. (2021). Habitat connectivity and landscape composition explain animal species richness in fragmented landscapes. Frontiers in Ecology and Evolution.Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fevo.2021.614362/full

  • Ramalho, M. et al. (2020). Small urban patches enhance biodiversity: a case study with birds in Brazilian Atlantic Forest remnants. Frontiers in Ecology and Evolution.Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fevo.2020.576705/full

  • Niemelä, J. (2013). Ecology of urban green spaces: The role of vegetation in urban planning and biodiversity conservation. In: Urban Environment. IntechOpen.Disponível em: https://www.intechopen.com/chapters/45423

  • Discussão pública (2022). Even one native plant will help at this point. Reddit — r/sustainability.Disponível em: https://www.reddit.com/r/sustainability/comments/zae2ck

 
 

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